Publicidade como Persuasão na visão de Tellis (2004)

 

No capítulo oito, Publicidade como persuasão, que integra a parte três, Descobertas de estudos experimentais: como e por que a publicidade funciona do livro Publicidade eficaz: entendendo quando, como e por que a publicidade funciona, o autor, Gerard J. Tellis foca nos “princípios amplos de persuasão, como as rotas de persuasão, persuasão de baixo envolvimento e o papel da repetição na persuasão.” inseridos em uma análise maior sobre a persuasão na publicidade, entendendo, segundo o autor, “persuasão de anúncio como uma mudança de atitude, de comportamento ou de opinião” através da razão “ou por outros meios mais sutis que não envolvem nenhum raciocínio. Exemplos deste último incluem o uso de pistas, como endossantes, e emoção, como medo ou alegria.” (TELLIS, 2004, p. 126,127).

Tellis (2004) salienta que, apesar de existirem inúmeras rotas de persuasão e uma farta literatura sobre cada uma delas, o modelo de probabilidade de elaboração mostra-se uma estrutura sintética que consegue explicar todas as várias vias da persuasão e suas razões. Tal modelo foi modificado pelo autor a fim de “organizar todos os modos de persuasão e todos os tipos de apelos.”  a partir do pressuposto de que o ‘caminho’ pelo “qual um anúncio convence os consumidores depende do quanto eles pensam sobre a mensagem do anúncio.” (TELLIS, 2004, p. 127)

Figura 01 modelo de probabilidade de elaboração adaptado por Tellis (2004)



Fonte: (TELLIS, 2004, p. 127)

De acordo com esse modelo, existem duas rotas a serem tomadas caso a audiência esteja motivada para processar as informações da peça publicitária, a rota Central, de argumentação forte, e a rota Periférica, de endossantes e pistas. Caso não haja a motivação, as pessoas expostas ao anúncio terão um Processamento Passivo.   

A rota Central, segundo Tellis (2004) é ‘percorrida' “Quando as pessoas têm a motivação e a capacidade de avaliar uma mensagem. Quando a probabilidade de pensar sobre o anúncio é alta, os consumidores em potencial “procurarão e responderão a argumentos fortes em favor da mensagem e contestarão o que eles acham que são razões fracas.” (TELLIS, 2004, p. 127).

A rota Periférica acontece quando “[...] os consumidores têm a motivação, mas não têm a capacidade de avaliar uma mensagem” porém, é provável que respondam às dicas associadas à mensagem” que são as “pistas de persuasão, são a presença de um endossante” como por exemplo, “a fama de um endossante, o glamour do meio, o custo do anúncio, a cópia florida ou o número de argumentos no anúncio (em oposição à força dos argumentos)” (TELLIS, 2004, p. 128).

Já o Processamento Passivo ou processamento de baixo envolvimento ocorre na falta tanto da motivação como da capacidade de processar a mensagem publicitária. “Nesta situação, é provável que respondam ao humor e ao drama” (TELLIS, 2004, p. 128).

Por motivação, o autor entende como “a disposição do indivíduo para avaliar uma mensagem. A motivação pode ser pela importância do item anunciado, pela fidelidade à marca anunciada ou por um anúncio muito envolvente.” A habilidade seria “a competência do indivíduo para se engajar no esforço mental requerido.” Para tal, a pessoa precisa de  “habilidades linguísticas adequadas, treinamento adequado em pensamento lógico, conhecimento adequado sobre os problemas e tempo e silêncio para pensar cuidadosamente sobre os problemas.” (TELLIS, 2004, p. 129).

Logo, segundo o argumento de Tellis (2004), ancorado em um estudo laboratorial de uma marca fictícia de lâminas de barbear descartáveis, Edge, a eficácia de uma publicidade vai depender do nível de envolvimento do público com a mensagem e, consequentemente, determinará o tipo de argumento a ser utilizado pelo anúncio.  

[...] quando os sujeitos estão envolvidos com a mensagem, uma via central de processamento é mais eficaz. Nesse caso, a força do argumento é importante para uma persuasão eficaz [...]. Mas quando os sujeitos não estão envolvidos com a mensagem, uma rota periférica de processamento pode ser eficaz. Nesse caso, pistas como o tipo de endossante são importantes para uma persuasão eficaz [...] Outro estudo descobriu que a força do argumento também é importante quando a mensagem é inconsistente com as preferências predominantes do receptor. Nesse cenário, um argumento forte é mais persuasivo do que um argumento fraco. TELLIS, 2004, p. 129).

Os gráficos a seguir ilustram essa conclusão. 

 Figura 02 Efeito do Nível de Envolvimento na Eficácia dos Recursos


 Fonte: (TELLIS, 2004, p. 130)

 

Alcançado o público-alvo, resta saber a duração, a estabilidade da persuasão e a resistência na mudança de informações de cada rota. Qual dura mais tempo e qual é mais resistente, a Central ou a Periférica? A resposta é: “As alterações que ocorrem pela via central são geralmente consideradas mais permanentes do que aquelas que ocorrem pela via periférica.” (TELLIS, 2004, p. 130). A permanência e a resistência da mensagem é diretamente proporcional ao nível de envolvimento e das habilidades recrutadas pela audiência na decodificação da publicidade. Sendo assim, a rota Central é mais duradoura que a Periférica, pois essa “envolve simples inferências baseadas em pistas de persuasão,” sendo “improvável que as questões e conclusões sejam lembradas por muito tempo.” (TELLIS, 2004, p. 131). No entanto, uma maneira de se aumentar, até certo ponto, a permanência é através da repetição.

Mas, no caso da repetição, essa é inversamente proporcional ao nível de envolvimento, já mencionado. “A repetição é mais eficaz para a via periférica do que para a via central. Para a via central, a repetição dos argumentos fortes pode levar ao tédio e irritação, a menos que os argumentos sejam adequadamente complexos.” (TELLIS, 2004, p. 132).

 Resumindo,

A persuasão pela via central costuma ser permanente e resistente. A persuasão pela via periférica não é permanente nem resistente. No entanto, pode tornar-se mais duradouro pela repetição e mais resistente pelo fornecimento de argumentos de apoio. (TELLIS, 2004, p. 131).

O processamento passivo ou de baixo envolvimento é mais comum na mídia televisiva e, apesar das críticas quanto à eficácia desse tipo de anúncio, um estudo[1] constatou que indivíduos distraídos, com baixo envolvimento na avaliação do anúncio, são mais predispostos a acatar mensagens triviais “com base em sua familiaridade com as declarações formadas a partir da repetição.” (TELLIS, 2004, p. 132). E mais, que esse tipo de publicidade potencializa a persuasão por baixo envolvimento.

Os tipos de processamento de baixo envolvimento são: 1) Mera Exposição, Priming (ou pré-ativação), 2) Venda Suave e 3) Publicidade Subliminar.

A Mera Exposição ou “o mero ato de exposição repetitiva de um estímulo pode levar à preferência por ele, mesmo que os consumidores não se lembrem da exposição.” O sucesso da Mera Exposição pode ser explicado pela “teoria de dois fatores de habituação e tédio”. (TELLIS, 2004, p. 133). O Priming é a Mera Exposição feita em “algum evento de entretenimento ou distração” que leva a uma melhor lembrança e preferência por esse nome, mesmo sem recordar a exposição.” (TELLIS, 2004, p. 133, 134). A principal diferença entre a Mera Exposição e o Priming é que esse é mais eficaz para marcas já famosas e estabelecidas enquanto aquela, pelo contrário, é recomendada para marcas novas que ainda estão tentando se estabelecer no mercado consumidor.

A Venda Suave “é uma mensagem sutil que permite diferentes interpretações, persuade por sugestão e não faz nenhum pedido direto de ação ou mudança.” Sendo que a sua repetição dificilmente leva, no curto prazo, o consumidor ao tédio e “provavelmente aumentará a lembrança da marca e os sentimentos positivos em relação a ela.“ (TELLIS, 2004, p. 134).

Como exemplo de Venda Suave, temos esse anúncio da marca Guess

Figura 03 Exemplo de publicidade de estilo Venda Suave

         Fonte: TELLIS, 2004, p. 136

A Propaganda Subliminar “refere-se a mensagens publicitárias persuasivas que estão logo abaixo do limiar de percepção e são incorporadas em material que pode ser percebido.” (TELLIS, 2004, p. 135). Como exemplo, temos a inserção de uma imagem, com o anúncio publicitário, em algum vídeo. O que determina esse tipo de publicidade como subliminar é a extrema rapidez com que a imagem aparece no vídeo, só podendo ser percebida subconscientemente. “É supostamente eficaz devido à falta de conhecimento ou resistência ao anúncio.” Porém, “O pensamento atual entre psicólogos profissionais e publicitários é que a publicidade subliminar não é eficaz por três razões.” (TELLIS, 2004, p. 135).

Duas se referem ao experimento, que deu início ao conceito publicitário  de mensagens subliminares, produzido por James McDonald Vicary. Ele exibiu as palavras “comer pipoca” e “beber Coca-Cola”, pelo tempo de 0,03 segundo, em uma tela de cinema durante um filme. O problema é que reproduções desse experimento foram inconclusivas e que o próprio trabalho de Vicary foi fraudulento. Outra razão é que sem a percepção consciente é improvável que alguma mensagem, publicitária ou não, seja eficaz.

A repetição é a exposição de uma anúncio publicitário, por exemplo, por no mínimo duas vezes consecutivas. A repetição na persuasão publicitária é um assunto “estudado extensivamente nas áreas de psicologia, marketing, publicidade e comportamento do consumidor.” (TELLIS, 2004, p. 137). Isso porque, “A repetição leva a uma maior persuasão, medida por variáveis como atenção, reconhecimento, lembrança, atitude, preferência, intenção comportamental e comportamento” (TELLIS, 2004, p. 138).

Estudiosos da área da publicidade buscam “o número preciso de exposições que maximiza a resposta do consumidor a um anúncio.” (TELLIS, 2004, p. 137). Tais estudos podem ser divididos em duas grandes vertentes, a dos minimalistas e a dos repeticionistas. Como o próprio nome sugere, “Minimalistas são aqueles que acreditam que poucas exposições alcançam a resposta máxima.”, já os repeticionistas “acreditam que a repetição da propaganda é essencial para a resposta ideal do consumidor.” (TELLIS, 2004, p. 137). Pesquisas sobre repetições e seus efeitos dão razão aos repeticionistas.  

Como veremos no gráfico a seguir, “a resposta à repetição é geralmente não linear, primeiro aumentando e depois nivelando ou diminuindo.” (TELLIS, 2004, p. 138).

Figura 04: Efeito da repetição do anúncio por estratégia de agendamento

Fonte: TELLIS, 2004, p. 139

Segundo Tellis (2004), é o contexto de publicidade que vai influenciar no número ideal de repetições e essa grandeza “pode ser definida em termos de familiaridade com a marca, novidade da mensagem e complexidade da mensagem. Esses três fatores constituem os elementos-chave de uma teoria da repetição e da frequência efetiva.” (TELLIS, 2004, p. 139)

A familiaridade “refere-se ao conhecimento, experiência ou lealdade dos consumidores à marca anunciada” e talvez seja o principal, isso porque, de acordo com o autor, “A resposta do consumidor à repetição da propaganda de uma marca difere substancialmente dependendo da familiaridade prévia dos consumidores com a marca” (TELLIS, 2004, p. 139, 140).

A novidade, a mudança no criativo de campanhas publicitárias, ocorre quando “os anunciantes alteram suas campanhas publicitárias, seja porque o anúncio era ineficaz no início ou porque a campanha se esgotou.” (TELLIS, 2004, p. 140).

A complexidade da mensagem publicitária “é aquela que é suficientemente difícil, rica ou ambígua para que o receptor não consiga absorver todas as informações que ela contém em uma única exposição”. A complexidade pode aumentar a persuasão na medida em que “cada repetição de um anúncio com uma mensagem complexa permite que o receptor obtenha novos insights sobre a mensagem.” Trazendo outro benefício, o de atrasar o tédio do público por se manterem mais tempo estimulado pelo anúncio. (TELLIS, 2004, p. 139, 142).

Voltando para a análise mais detalhada da repetição, Tellis (2004) apresenta duas teorias que podem explicar sua funcionalidade, as teorias da Habituação-Tédio e do Condicionamento.

A Teoria da Habituação-Tédio é a análise conjunta de duas causas do fator repetição. A habituação com a repetição dos anúncios reduz “incerteza e tensão, levando à familiaridade e ao gosto.” Enquanto que o tédio é o outro lado da moeda, pois “a exposição repetitiva aos mesmos estímulos leva ao tédio crescente e à diminuição do gosto.“ (TELLIS, 2004, p. 143).

O gráfico a seguir ilustra a resposta do público em relação à habituação e ao tédio a partir do estímulo das repetições

Figura 05: A repetição convence pela habituação e pelo tédio

  

 Fonte: TELLIS, 2004, p. 144

 

A Teoria do Condicionamento diz que “uma resposta condicionada [...] ocorre por meio de associações repetitivas entre um par de estímulos, o incondicionado [...] e o condicionado [...].” Sendo que, uma vez feita essa associação, a “resposta condicionada não requer associações repetitivas dos dois estímulos para ser sustentada. No entanto, se qualquer um dos dois estímulos ocorrer sozinho, a associação entre os dois será enfraquecida” e o condicionamento será desfeito (TELLIS, 2004, p. 144).

 

Figura 06: O processo de condicionamento

        Fonte: TELLIS, 2004, p. 145

 Um exemplo de condicionamento no público é o uso de celebridades em anúncios. Um “estudo argumentou que o condicionamento foi a principal razão para o uso de cenas felizes ou celebridades. [...] Nesse caso, a celebridade é o estímulo incondicionado, a marca é o estímulo condicionado e o sentimento de atração é a resposta” (TELLIS, 2004, p. 145).

O autor termina o capítulo, aqui resumido, apresentando quatro fatores para o sucesso do condicionamento.   

Extensos experimentos mostraram que quatro fatores favorecem o sucesso do condicionamento: a capacidade de previsão, a distinção, a força da resposta e a ligação do estímulo incondicionado.

Primeiro, o estímulo condicionado deve estar intimamente associado ao um incondicionado.46Em segundo lugar, o estímulo incondicionado deve ser distinto ou único. Terceiro, o estímulo incondicionado deve ter um forte apelo para o receptor. Quarto, deve haver uma boa ligação entre os dois estímulos. O condicionamento pode explicar por que a associação repetitiva de um estímulo e uma marca na propaganda parece funcionar. (TELLIS, 2004, p. 145).

 

Referência:

TELLIS, G.J. Advertising as Persuasion In: ______. (org.). Effective advertising: understanding when, how, and why advertising works. California: Sage publications, 2004, p. 126 – 149.



[1] Hawkins, Scott A. e Steve J. Hoch (1992), “Aprendizagem de baixo envolvimento: Memória sem avaliação”, Jornal de Pesquisa do Consumidor,19 (setembro), 212-225.



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