Intertextualidade, seus tipos, e interdiscursividade

 Intertextualidade

A intertextualidade ocorre quando um texto faz referência a outro(s) texto(s), quando há relação e influência entre eles.

Um dos primeiros, se não o primeiro autor, a estudar esse fenômeno foi Bakhtin.  Para Bakhtin (2019), o objeto do discurso sempre irá estabelecer relações de intertextualidade, com o passado (o que já foi dito) e com o futuro (antecipações do que será dito), da unidade temática em questão.

Bakhtin (2019), no livro Os Gêneros do Discurso,  afirma que os enunciados são dinâmicos e heterogêneos, pois acompanham as transformações socioculturais de cada época.  “Os enunciados e seus tipos, isto é, os gêneros discursivos, são correias de transmissão entre a história da sociedade e a história da linguagem” (BAKHTIN, 2019, p. 20)

Importante sublinhar que o conceito de gêneros do discurso e de intertextualidade estão inseridos na visão dialógica do Círculo de Bakhtin. Dialogismo seria o princípio constitutivo da linguagem, o seu modo real de funcionamento, o mecanismo de interação enunciativa através do qual outros discursos são referenciados.  

Bakhtin observa a intertextualidade como uma via de mão dupla entre a linguagem literária e a extraliterária, cujos efeitos observamos com a ampliação dos gêneros do discurso.  

“Toda ampliação da linguagem literária à custa das diversas camadas extraliterárias da língua nacional está intimamente ligada à penetração da linguagem literária em todos os gêneros (literários, científicos, publicísticos, de conversação, etc.), em maior ou menor grau, também dos novos procedimentos de gênero de construção da totalidade do discurso, seu acabamento, da inclusão de ouvinte ou parceiro etc., o que acarreta uma reconstrução e uma renovação mais ou menos substancial dos gêneros do discurso.” (BAKHTIN, 2019, p. 20, 21) 

Segundo Cavalcante (2012), a intertextualidade ocorre por relações de copresença e por relações de derivação. As relações de copresença são “aquelas em que é possível perceber, por meio de distintos níveis de evidência, a presença de fragmentos de textos previamente produzidos, os quais são encontrados em outros textos”. São exemplos dessa categoria: a citação, o plágio, a alusão e a referência.  Já as relações de derivação, “acontecem quando um texto deriva de outro previamente existente”, como exemplos temos  a paródia, o pastiche, o travestimento burlesco, a paráfrase e o détournement. (CAVALCANTE, 2012, p. 147, 155)

1Citação, transcrição de determinado trecho de uma obra, com a devida referência,


 
2. Plágio, é a apropriação indevida de um texto originalmente produzido por outro(a) autor(a),


3. Alusão, referência a alguém ou algo,


4. Referência, é a remissão a outro texto, seja por meio de nomeação do  autor, das personagens ou do título da obra referenciados.



 5. Paródia, reescrita de um texto-fonte de maneira satírica, 




  6. Pastiche, imitação do estilo de outros autores,

  7. Travestimento Burlesco, transformação da estrutura e do estilo de um texto em outro de conteúdo satírico,   



     8. Paráfrase, é a citação indireta, feita a partir das próprias palavras do citante, também consta a referência,


Fonte: https://redacaojuridica.com.br/parafrase-ou-plagio-na-redacao-juridica/


   9. Détournement, é um tipo especial de paródia, normalmente  circunscrita a textos curtos, provérbios,  frases feitas ou ditados populares. Cujo objetivo é remeter de forma crítica, irônica, adequativa etc ao texto original. 

“De onde menos se espera, daí é que não sai nada".  Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o barão de Itararé, ironizando a frase original: “De onde ninguém espera coisa alguma é que vem as maiores surpresas”

Interdiscursividade 

Interdiscursividade é a relação dialógica entre discursos, enunciados, quando há duas ou mais vozes em um texto. Novamente, um dos primeiros autores a discutir esse fenômeno foi Bakhtin.   

Ao exemplificar a interdiscursividade “[...] o papel ativo do outro no processo de comunicação discursiva.” (BAKHTIN, 2019, p. 27) Bakhtin observa que “Os limites de cada enunciado concreto como unidade da comunicação discursiva são definidos pela alternância de sujeitos do discurso, ou seja, pela alternância dos falantes.” e que “Por sua precisão e simplicidade, o diálogo é a forma clássica de comunicação discursiva. Cada réplica, por mais breve e fragmentária que seja, tem uma conclusibilidade específica, ao exprimir certa posição do falante que suscita resposta, em relação à qual se pode assumir uma posição responsiva" (BAKHTIN, 2019, p. 29) “Essas relações só são possíveis entre enunciados de diferentes sujeitos do discurso, pressupõem outros (em relação ao falante) membros da comunicação discursiva” (BAKHTIN, 2019, p. 30).

Exemplo de interdiscursividade entre os discursos da paz e da guerra, na obra do artista Banksy




Referências:

BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso (1952-1953/1979). In: BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2016, p. 11-69

CAVALCANTE, M.M. Os sentidos do texto, São Paulo: Contexto, 2012.




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